84000 caminhos no Budismo

"Diz-se que no Budismo existem 84000 caminhos para alcançar o despertar,ou tal como reza o poema escrito por um myokonin japonês(1):

84000 enganos
84000 luzes
84000 prazeres transbordantes

Diante de 84000 maneiras de nos enganarmos e auto-submetermos, de permanecer na ignorância e no sofrimento, o budismo oferece 84000 luzes ou modos de iluminar a nossa mente, 84000 formas de despertar para a realidade, ou seja, para o prazer natural de uma vida plena e livre de obstáculos. E aí, portanto, 84000 alívios, 84000 iluminações, 84000 nirvanas. Este número é uma cifra simbólica que na Ásia equivale a "infinito". Há infinitas variações possíveis, infinito número de pessoas - sendo cada pessoa única, com as suas circunstâncias pessoais particulares e irrepetíveis - e, segundo o Budismo, para cada uma delas existe um caminho para extinguir o seu sofrimento, sair da ignorância e alcançar, nesta vida, o gozo da absoluta certeza de sentir-se livre, desperto e tão feliz como no paraíso."

(1) "Pessoa maravilhosa e exemplar", segundo a tradição do Budismo Shin, no qual não há mestres.

Tradução de Ama do livro " Que és el Zen?" - D.T. SUZUKI
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84000 enganos
84000 luzes
84000 prazeres transbordantes

O Budismo Shin nasceu dentro da tradição do Budismo da Terra Pura e interpreta o poema assim:

" Na medida que os nossos pensamentos, sentimentos e representações procedem de um ser finito, limitado e carregado de Karma, todos eles são enganos. Não é questão de isto ser certo ou falso, bom ou mau : é a nossa crua realidade. São um engano porque fazem-nos ver o mundo desde uma perpectiva egocêntrica, facto que costuma aparecer na nossa atenção consciente habitual. A nossa visão míope distorce a realidade; por tanto, aquilo que pensamos, fazemos e dizemos é invariavelmente defeituoso e deficiente, ainda que não o queiramos admitir.

(....) construímos um mundo com palavras e conceitos impregnados das nossas próprias emoções. Assim a nossa vida enche-se de polaridades tais como bom ou mau, gosto e não gosto, amor e ódio, branco e negro, meu e não meu, iluminado e não iluminado, e assim até ao infinito. Este é o mundo dos 84000 enganos.

Só nos dámos conta desta vida de constante invenção quando a nossa realidade é iluminada pela luz. Esta luz focaliza-se sobre cada um dos 84000 enganos, tornando-os transparentes e retirando-lhes todo o seu poder. No Budismo, a luz é um sinónimo de sabedoria, e esta luz não é senão o Buda da Luz Infinita (Amitabha). Esta luz, que não é crua, fria nem distante, mas sim suave, cálida e próxima, sente-se como um exercício vivo de compaixão. Aquele mesmo Buda é também chamado Buda da Vida Infinita (Amitayus). Na Ásia oriental, estes dois nomes uniram-se num só, Buda Amida, ganhando vida através del nembutsu, a pronunciação do Namu-Amida-Butsu.

Quando, por meio da virtude dessa luz compassiva, é-nos possibilitado darmos conta do engano, nesse momento somos tocados pela realidade, deixamos de estar perdidos ou confusos, com medo ou raiva, inseguros ou angustiados, não porque os ditos estados tenham desvanecido, mas sim porque revelam-se mais claramente, acolhidos e protegidos pela grande compaixão do Buda da Luz Infinita. Cada repetição de Namu-Amida-Butsu liberta-nos dos nossos enganos, ainda que Karmicamente unidos a eles. Esta libertação - inesperada, imerecida e inconcebível - é causa e motivo da celebração sem fim desta vida tão preciosa: 84000 prazeres transbordantes."

Tradução de Ama do livro "Shin O Buda da Luz infinita" de Dr. Taitetsu Unno.

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