Juan Masiá

Juan Masiá é um Teólogo Jesuíta, Professor de Ética da Universidade Sophia (Tóquio) desde 1970, ex-Director da Cátedra de Bioética da Universidade Pontifícia Comillas em Espanha, assessor da Associação de Médicos Católicos do Japão. É tambem investigador do Centro de Estudos sobre a Paz da Secção japonesa da Conferência Mundial de Religiões pela Paz (WCRP).
É autor de vários livros entre os quais "A Sabedoria do Oriente", "Do Sofrimento à Felicidade" e "Tertúlias de Bioética" e um profundo conhecedor da espiritualidade oriental.
Aqui ficam algumas das suas ideias retiradas de uma entrevista que concedeu à TSF em Julho de 2007.

"O tema da evangelização e da missão está a passar por uma mudança decisiva. Eu trabalho com budistas e pessoas de outras religiões e temos um conceito de missão que não significa que eu converta os outros à minha religião, mas que as outras religiões e eu com eles, embarquemos numa nova missão que é ajudar o mundo a despertar para a religiosidade e para a espiritualidade. Dei um curso de introdução, não ao cristianismo mas à religiosidade, com budistas e pessoas de outras religiões. E nesse curso nenhum de nós tentou fazer proselitismo da sua própria religião. O que se torna necessário é que as religiões se unam para colaborar no despertar do mundo para a religiosidade e para a construção da paz e da justiça, a começar pela comunidade local. É uma noção de missão completamente diferente da tradicional."

Sobre a sua missão no Japão:
"Que os japoneses e eu nos convertamos ao mistério que nos ultrapassa a todos. É isto que o Vaticano não entende. Não vamos convertê-los ao cristianismo mas que eles e nós nos convertamos! Chame-se Deus, chame-se Buda, chame-se... aquilo a que nenhum de nós se converteu ainda. Isto é um enfoque muito mais radical da missão e da conversão. Se presumimos que já temos o campo conquistado isso é falar com o tom de segurança que utiliza a Congregação da Doutrina da Fé, no documento Dominus Iesus a propósito da salvação. Esse é o esquema que a nós, os que estamos no Japão, não nos diz nada."

Relativamente ao recente e polémico documento do Vaticano que afirma que a Igreja Católica é o exclusivo lugar de salvação diz:
"Muito simplesmente, nem esse documento nem a Dominus Iesus são admissíveis. Creio que, em consciência e em fidelidade ao Evangelho, é preciso rejeitá-los e dizer – já chega! – com toda a clareza. Há bispos que pensam assim, mas não se atrevem a dizê-lo. Mas é preciso dizê-lo sem medo ainda que incomode. Começam a produzir-se documentos nesta linha e o povo crente olha para eles como se tudo fosse dogma de fé porque vem de Roma. É preciso ensinar o povo a ser adulto, e que não comungue, como se diz em castelhano, com rodas de moinho. Monopolizar o Espírito Santo é muito sério. Diria que nenhuma espiritualidade tem o monopólio do sagrado. Nenhuma religião tem o monopólio do divino. E nenhuma Igreja cristã tem o monopólio do Espírito de Vida. O Espírito Santo diz-nos a todos: já chega de monopolizar-me! Então convida-nos a sair do exclusivismo, do fundamentalismo, a admitir o pluralismo e a perder o medo do relativismo. O Espírito Santo é o único que não muda na Igreja. O Espírito é quem nos faz mudar continuamente...."

E num discurso marcadamente ecuménico e generoso confia ainda que:
"Que o Espírito de vida permanece na Igreja católica, claro que sim, apesar de a Igreja católica, que somos todos nós, atraiçoar muitas vezes o Espírito. E permanece também em todas as Igrejas irmãs, e em todas as religiões irmãs. E, tanto nós como as outras Igrejas e Religiões somos essa mistura de autenticidade do sopro do Espírito e de inautenticidade da nossa fragilidade, da nossa debilidade humana."

Teresa de Jesus e El Greco



Se quisermos obter uma ideia sobre a mística de Teresa é preciso que lancemos um olhar não para os teólogos, mas para a arte de El Greco. Teresa não exerceu nenhum influxo sobre este artista, mas a arte dele oferece um admirável paralelismo com a mística de Teresa. As figuras mais assombrosas de El Greco nasceram em Toledo, apenas algumas quadras distantes da casa onde Teresa residira naquele tempo durante meio ano. El Greco e Teresa nunca se encontraram pessoalmente; não possuímos nenhuma referência a um colóquio entre os dois. Não obstante, as pinturas flamejantes, metafísicas de El Greco exprimem, em misteriosas cores, o que Teresa revestiu em palavras. Numa e noutro o ser humano se dilui num gesto que tende para o céu, transformado que foi numa chama viva, anunciando uma realidade supra-racional.



As pinturas de El Greco não podem ser comparadas com as pinturas dos grandes artistas espanhóis; somos tentados a dizer que não procedem do atelier de um pintor. Elas procedem de um país mais distante, desconhecido, e são, como as palavras de Teresa, visões deslumbrantes de uma alma estática. Por isso actuam sobre o contemplador como um apelo supra mundano, pedindo uma resposta. Durante séculos os historiadores da arte menosprezaram as pinturas de El Greco, eram pinturas bastardas, demonstrando assim, a mesma incompreensão da teologia da Inquisição em relação a Teresa.
























As figuras estáticas e distendidas de El Greco transcendem intencionalmente a realidade comum, ostentando febrilmente os seus êxtases, não muito diferentes dos de Teresa de Jesus. Artista e monja falam a mesma linguagem da mística, uma linguagem que o pensamento pragmatista não é capaz de entender, porque nada sabe da eternidade.
Não foi por acaso que ambos foram declarados "loucos" pelo homem mediano. Teresa e El Greco viveram uma realidade mística voltada para o céu e interpretavam a partir dali os acontecimentos terrestres.

Teresa de Jesus - 2



Teresa fez da mística o tema principal de suas obras, razão por que se tornou "um marco na história da mesma". A vida mística não foi para ela apenas teoria e, correspondentemente, também não escreveu tratados. Muito sabiamente ela dizia da mística: "Como se há de entender isto, não o sei; justamente este não-entender é que me causa grande alegria". Naturalmente, Teresa tinha conhecimento da teologia mística, visto que por vezes fez referências a ela; mas, examinando mais de perto a questão, para ela sempre se tratava da experiência. Defendeu uma mística expressamente vivencial e nunca lhe interessaram meras afirmações teológicas. Não se baseou em teorias, mas descreveu suas próprias experiências. Sem experiências particulares não existe vida espiritual genuína. Só a prudência não basta. Teresa não excluiu a reflexão; assinalou-lhe, porém, apenas o segundo lugar. Mística significava para ela, em primeira e última linha, experiência de Deus, que lhe coube em dom durante a oração. É nisto que consiste a credibilidade de seus escritos.

"É preciso que te busques em mim e a mim em ti" cantava Teresa; na autobiografia, o Senhor lhe disse: "Não procures encerrar-me em ti. Encerra-te em mim!" Nesta advertência significativa, documenta-se a conversão carmelitana. Quem está ocupado consigo mesmo, quem se fixa constantemente sobre a própria pessoa encontra-se numa rotina infindável. Não se deve procurar a Deus no minúsculo eu, mas inversamente, o homem deve encontrar-se em Deus; com isto supera o subjectivismo em todos os seus matizes. A conversão do eu a Deus é uma ajuda maior do que pode oferecer qualquer psicologia. Se entra na presença de Deus e vive nela, a alma do homem torna-se diáfana e luminosa. Por isso, a mística de Teresa não se movia na onda de sentimentos alternados, mas consistia no cumprimento da vontade divina; tinha, por conseguinte, chão firme por sob os pés. "O mais alto grau da perfeição, evidentemente, não consiste em consolações interiores e em sublimes arrebatamentos místicos, nem em visões e no espírito da profecia, senão unicamente nessa conformidade de nossa vontade com a vontade divina". Como todos os místicos, Teresa usou certas parábolas para descrever o indescritível. A mística acha-se vinculada a uma linguagem de figuras e não a conceitos. O seu conteúdo é uma "história de amor" com Deus. Teresa comparou a alma com um castelo com diferentes moradas. Costumava dizer que no nosso interior temos um mundo.

Admirável é o conhecimento inteiramente extraordinário que ela tem da alma. Em todas as épocas, os homens reflectiram sobre a alma, a começar pelo obscuro filósofo Heráclito de Éfeso: "Vai e não acharás as fronteiras da alma, mesmo que andes por todas as estradas; tão profunda é a sua natureza", até a Realidade da alma de C. G. Jung, cujos conceitos se transformaram em lugares-comuns. Teresa conhecia tudo isto de maneira diferente; talvez se possa afirmar que ela o sabia até de maneira mais grandiosa e expressiva. Para Teresa, o importante era a alma; tomar consciência de sua alma foi uma de suas experiências mais profundas. Nos tempos modernos, o homem corre o risco de perder a sua alma e, justamente por esta razão, Teresa adquire uma grande actualidade. Ela fez a experiência do maravilhoso da alma. E isto causou-lhe uma profunda admiração. Lendo seus escritos, chegamos a conhecer algo do mistério da alma, e doravante não é mais possível ignorá-la. No pensar de Teresa, a alma compreende muito mais do que comumente imaginamos. Porém, "o progresso da alma não está no muito reflectir, mas no muito amar". De acordo com esta compreensão profunda, o mais importante para a vida mística não é a reflexão, mas o amor. Para Teresa é importante o amor a Deus; para ela, a mística não consiste em especulações filosóficas. Quanto mais uma pessoa ama, tanto mais abrangente se torna sua alma. Teresa opunha-se decididamente a uma uniformização da alma. "Como no céu há muitas moradas, assim também há muitos caminhos que levam a ele".
(Extraído da obra "Teresa de Ávila – Teresa de Jesus", de Walter Nigg, Ed. Loyola)

Teresa de Jesus - 1

Teresa de Ávila ou Teresa de Jesus (Gotarrendura, 28 de março de 1515 — Alba de Tormes, 4 de Outubro de 1582) foi uma religiosa e escritora espanhola, famosa pela reforma que realizou no Carmelo e por suas obras místicas.

Teresa não foi a primeira mulher que teve experiências místicas. Antes dela, Hildegard de Bingen, Mechtild de Magdeburgo, Catarina de Sena e mais algumas outras conheceram-nas igualmente por experiência própria e nos deixaram o relato das mesmas em seus escritos. No caso da grande Teresa, porém, a situação era muito diferente. Da sua parte, ela não sentia nenhuma necessidade para assentar por escrito as coisas experimentadas. Não tinha ambições de escritora, nem pensava em manifestar externamente o que se havia passado no seu interior.

Pelo contrário, foi o confessor que lhe ordenou escrever as suas experiências. Ela o fez a contragosto e julgava que deviam deixá-la tocar sua roda de fiar, visitar a capela e observar a regra, como o faziam as outras monjas, já que não tinha talento para escrever. Não obstante, ela obedeceu, mas em relação às suas predecessoras julgava dever dizer: "Essas sabiam o que escreviam, eu, porém, Deus o sabe, realmente não sei o que estou escrevendo!" Talvez tenha escrito em estado de transe; seja como for, ela possuía o raro dom de escrever. Por isso, muitas vezes é representada com a pena na mão e com uma pomba, símbolo do Espírito Santo. Sentava-se à escrivaninha e, muitas vezes, a pena deslizava tão rapidamente sobre o papel que ela mal podia segui-la. De quando em vez, ela se queixa de se ter afastado do assunto. Escrevia no parco tempo livre de que dispunha; escreveu em estado precário de saúde e geralmente só à noite, mas escrevia de fôlego. Acontecia muito raro ter de riscar uma palavra ou ter de acrescentar uma correcção: seu espanhol é impecável.

As duas obras, Caminho da perfeição e Castelo interior ou moradas, não podem ser lidas como se lê uma poesia! Não são literatura no sentido comum do termo, porque não se destinam à distracção nem à mera informação. A compreensão dos seus escritos está ligada à prática: tornam-se incompreensíveis a todo aquele que não os toma como instrução para a vida. Ildefonso Moriones reconheceu-o muito bem, quando disse que "ela mesma se transformou no livro vivo".

Como sempre, as exposições de Teresa contêm valiosos conselhos. Ela era uma mulher de rara prudência, que tivera uma rica experiência em sua vida e soubera assimilar espiritualmente as suas vivências. Por esta razão, foi capaz de orientar as pessoas e dar-lhes conselhos oportunos. Em certa ocasião, deu o seguinte conselho a uma pessoa propensa à depressão: "Trate de, às vezes, passear tranquilamente ao ar livre, quando for acometida por esses sentimentos opressivos; por que eles dificultam a sua oração; é preciso que lutemos contra as nossas fraquezas de modo que a nossa natureza não fique prejudicada. Também esta é uma busca de Deus ... e é necessário que conduzamos nossa alma suavemente." Na orientação espiritual, Teresa não sugeria apenas passeios salutares, mas inculcava às suas monjas também a humildade. Humildade significava para ela estar na verdade. Indignava-se quando encontrava pessoas que não compreendiam a dignidade da própria alma. Era contra toda e qualquer violência que escraviza a alma e achava necessário certo grau de amor ao corpo, para que, da sua parte, fosse capaz de servir à alma. Uma alma não deve ser coagida nem podada sob medida, porque este modo de proceder só pode produzir uma existência truncada. "Porque, se falamos da alma, devemos combinar sempre com ela os conceitos de plenitude, amplitude e grandeza, nada disso é exagerado, porque a alma é capaz de abarcar muito mais do que nós somos capazes de imaginar". Este é um modo digno de falar da alma! Não se pode encontrar nela nada de rançoso, angustioso ou acanhado. Teresa sentiu toda a riqueza, amplitude e grandeza da alma; seu coração se alargara de verdade!

O Poder do Silêncio no Século XXI

Conferência de Alfredo Sfeir-Younis no Clube Literário do Porto

Numa sociedade dominada pelo ruído, é o "poder do silêncio que vai transformar a humanidade", devolvendo a paz mundial, sanando grande parte dos problemas e gerando uma nova consciência humana.

“Existe uma relação directa entre o barulho, a acção e o comportamento. Num mundo que perde o seu intelecto e se desmorona pelas suas emoções apenas o poder do silêncio permitirá ao espírito redefinir o destino da humanidade”. Para Younis, a interdependência é um conceito chave para se perceber o mundo e as soluções para os seus problemas, pessoais ou colectivos.

Alfredo Sfeir-Younis foi durante 29 anos economista do Banco Mundial, onde lançou os alicerces para uma economia ambiental. Foi director do escritório do Banco Mundial em Genebra. Foi ainda, representante especial para as Nações Unidas e para a Sociedade das Nações.
Actualmente é presidente do Instituto Zambuling para a Transformação Humana. Galardoado com o Lifetime Ambassador of Peace, o Peace Award, o World Healer Award, e o Social Corporate Responsibility Award.

Data: segunda-feira, 21 de Janeiro, às 21.30h
Local: Auditório do Ciclo Literário do Porto Rua Nova da Alfândega, 22 4050 - 430 PORTO
Informações: clubeliterario@fla.pt ou 222 089 228

Entrevista de Alfredo Sfeir-Younis no DN

Teresa O Corpo de Cristo

Título original: Teresa, el Cuerpo de Cristo
De: Ray Loriga
Com: Paz Vega, Leonor Watling, Geraldine Chaplin
Género: Drama histórico
Classificacao: M/12
ESP/FRA/GB, 2007, Cores, 97 min.

Castela, século XVI. Cansada de um mundo onde a subserviência aos homens é o destino das mulheres, onde elas não têm qualquer papel na sociedade, Teresa de Cepeda y Ahumada – órfã de mãe e com um pai fidalgo e rico – abraça um novo rumo para a sua vida. O seu desejo passa por ter uma vida mais culta e menos material. Através da leitura almeja conhecer os grandes pensadores.
Apesar de todas as tentativas de dissuasão por parte dos mais próximos, Teresa leva avante as suas ambições e entra para um convento.
Para Teresa este é o local onde os males dos Homens dificilmente entram, lá todas são iguais, não há pobres nem ricas, materialismo é algo que nem se vê, a perversão e luxúria são manifestações demoníacas.
Mas o começo da sua longa e desejada permanência naquele porto de abrigo, para as suas aspirações e para os seus desejos, logo vai revelar algo que nunca ousaria presenciar em tais paragens.

Se a sociedade de onde partiu a repugnava, sobre ela recaem sentimentos de raiva, de frustração, de desgosto quando é confrontada com uma realidade bastante semelhante àquela que decidiu deixar para trás.

Cedo se apercebe da escravidão imposta às jovens oriundas de meios mais pobres, praticada pelas freiras mais antigas. A intenção de se despojar dos seus bens materiais, assim como os que lhe são proporcionados, esbarra na intransigência da madre superiora em que tal não é possível nem desejável. Os pecados da lascívia, da imoralidade são demasiadamente recorrentes à sua vista, naquela que deveria ser a casa d'Ele.

Depois de tanta insatisfação e desilusão perante o que encontra, Teresa decide assim enfrentar todos esses males dedicando o resto da sua via a Cristo. Vai amá-Lo fielmente, vai sacrificar-se por Ele, vai sofrer na sua pele o que Ele sofreu. As visões que ela tem d'Ele vão-lhe dando ainda mais fé, ajudando a continuar a sua jornada.
Ele vai ouvir as suas preces encarnando-lhe o corpo fragilizado, mas se os jesuítas vêem em Teresa uma Santa, admirando o seu sofrimento, os responsáveis pela Inquisição não partilham a mesma visão. Para eles Teresa está possuída, o demónio tomou conta do seu espírito e do seu corpo. Com estas manifestações – ajudadas pelas leituras hereges – o seu destino aos olhos dos inquisidores já está traçado. A fogueira começa a ser acendida caso Teresa não se negue.
Para Teresa, a fé é maior que qualquer lenha crepitante pronta a queimá-la viva. A sua fé vai levá-la a fundar o seu próprio convento contra tudo e todos, cortando qualquer relação com o convento que achava imaculado, realizando os desejos que até aí lhe tinham sido negados.

Este filme realizado pelo espanhol Ray Loriga, que retrata a vida da fundadora da Ordem das Carmelitas Descalças, já foi criticado pelos altos representantes da Igreja Católica em Espanha. A razão está na relação carnal entre Santa Teresa e a figura de Cristo.
A película é interpretada por Paz Veja (Espanglês) e por Leonor Watiling (Fala com Ela).

Site oficial: www.teresalapelicula.com

Entrevista a Philip Gröning, realizador do documentário "O Grande Silêncio"



Philip Gröning, realizador do filme O Grande Silêncio, que mostra a vida dos monges da Grande Cartuxa, em Grenoble, visitou a Cartuxa de Évora antes do lançamento de "O Segredo da Cartuxa" (edição Pedra da Lua), de Paulo Moura e Nacho Doce. Entrevista ao realizador, que comparou os dois mosteiros e falou entusiasmado do livro.

O superior da ordem vem ao portão, pega-lhe no braço e condu-lo em direcção à igreja. Vamos atrás, depois de alguma hesitação, mas é para ele que vai toda a atenção de cicerone. Acabada a explicação histórica sobre o edifício, mandado construir durante a ocupação espanhola, mas que sofreu, em 1834, a sanha anti-religiosa do “mata-frades” Joaquim António de Aguiar faz-nos um resumo do que disse e dá-nos a perceber que só Philip poderá penetrar no interior do mosteiro.

Philip Gröning, 46 anos, é o autor do filme O Grande Silêncio, que dá a conhecer o dia-a-dia dos monges da Grande Cartuxa, em Grenoble. O filme, que acabou de sair em Portugal em formato DVD e teve um milhão de espectadores na Europa (para lá da sua exibição em televisões), começa agora o circuito das Américas.

Familiares levaram cópia do filme aos monges da Cartuxa de Évora, que gostaram do trabalho. Por isso disseram de imediato que sim, quando - impossibilitado de estar presente no lançamento do livro, esta terça-feira – o realizador se mostrou interessado em visitar o mosteiro, com cujas imagens e estilo de vida tomou contacto através do texto de Paulo Moura e das fotos de Nacho Doce.

Público - Que diferenças sentiu entre esta Cartuxa e a Grande Cartuxa?

Philip Groning - Esta é muito amigável, clara e luminosa. Há um jardim fantástico no meio, como um pedaço de paraíso, muito simples. Fora, pensa-se que há um grande luxo, como na igreja, mas no claustro e nas celas não há nada. É de uma simplicidade e de uma harmonia perfeitas.

Público - Mais que na Grande Cartuxa?

Philip Groning - Sim, porque é mais luminoso. Na Grande Cartuxa vê-se que todo o edifício tem que se defender muito contra a neve, contra o frio. O claustro é fechado por boas razões: por vezes, no Inverno, há três metros de neve. Se não estivesse fechado, não se podia passar. Aqui, tudo é aberto e há um pequeno jardim com laranjeiras e uma fonte de água...


Público - Os monges viram o filme e ficaram frustrados, porque consideraram que teria sido melhor fazer o filme aqui. Teve a mesma sensação?

Philip Groning - Eu comecei por pedir autorização a Morieux, [cartuxa] no sul da França. É muito semelhante à de Évora. É uma pequena organização agrícola com um mosteiro, mais pequena do que esta. É muito luminosa também e quando, no primeiro momento, me disseram que me davam permissão de filmar na Grande Cartuxa, pensei que era pena não ter autorização para o fazer em Morieux.
Mas, para fazer o filme, essa era já uma primeira aproximação séria ao modo de viver dos monges: a regra número um deles é a obediência e se a ordem me pedia que fizesse o filme na Grande Cartuxa, eu devia fazê-lo.

Público - Nunca poderia ser completamente diferente: ser monge aqui ou na Grande Cartuxa não é a mesma coisa?

Philip Groning - Em princípio é a mesma coisa. Mas o silêncio é diferente, porque aqui ouvem-se mais os pássaros. Em Grenoble, [o local] é mais elevado e agora, em Dezembro, há um metro de neve. A regra é a mesma em todo o lado e a estrutura principal das células também. Mas, para um monge contemplativo, a natureza é muito importante, porque, como não se está todo o tempo em contacto com seres humanos, ver as plantas, os pássaros, as nuvens, o sol, a luz, tudo isso é muito importante. A vida de um monge que vive no frio é diferente da de um monge que vive num país quente.

Público - É por isso que também se sente no filme que mesmo os pequenos objectos e as coisas do quotidiano têm uma grande importância?

Philip Groning - Sim. Vivi lá durante meio ano e experimentei que, quando não se fala e não se ouve falar, os objectos, presença do mundo, têm uma importância muito aguda, muito viva. É a única coisa que, de certa maneira, faz viver, porque são o único elemento com que se está em contacto nesse momento. Filosoficamente, apercebemo-nos que é um milagre sem explicação que haja qualquer coisa em vez de não haver nada.

Público - Encontrou-se com os monges?

Philip Groning - Não, aqui não, vi um irmão que trabalhava. É a regra do silêncio. Falei com o procurador, mas com outros não falei. Saudámo-nos, mas sem falar.

Público - Já esteve em outros mosteiros?

Philip Groning - Estive em Morieux, na Grande Cartuxa, em Porte e na Vintcente, na Suíça.

Público - O que o faz correr para esses lugares? Procura Deus?

Philip Groning - Sim, procuro Deus. No início, queria fazer o filme e procurava um lugar para o fazer. Agora, em visita, isso traz-me a recordação do que foi viver no mosteiro – uma experiência muito boa e muito forte, e que se deseja ver começada noutro mosteiro. Mas não sou turista de mosteiros.

Público - É realizador, quis fazer um filme para dizer o quê às pessoas?

Philip Groning - Um filme conseguido abre o espaço às pessoas para que encontrem a sua própria questão. Um filme que é verdadeiramente bom não diz isto ou aquilo, isso é idiota, mas um filme bom coloca-nos num campo de tensão entre o silêncio, o barulho, o ritmo, a ausência das palavras, a ausência de Deus, a presença de Deus, e cada um pode procurar o seu caminho por dentro.

Público - No filme há duas seduções: a do realizador por este tipo de vida e a que se sente nos monges pela fé e por Deus. O filme foi também para falar dessas seduções?

Philip Groning - Eu coloquei uma frase [bíblica] no filme sobre a sedução [“Tu me seduziste, Senhor, e eu deixei-me seduzir”]. A sedução é uma palavra que tem um significado diferente conforme os países. Na América, é uma coisa muito má, na Alemanha é muito bela, ser seduzido é mesmo uma das coisas mais belas. Para mim, essa frase traduz a sedução positiva, no sentido de uma pessoa se abandonar a qualquer coisa e abrir-se completamente a uma influência, de se abrir um espaço da alma ao que vem do mundo e da vida. Para mim, é uma das coisas mais importantes para viver e para ser feliz, abrir-se nesse sentido, deixar-se seduzir.

Público - Qual é a sedução, no mundo veloz em que vivemos, de um tipo de vida como esta, quase inútil, pois eles não dão nada à sociedade?

Philip Groning - Felizmente. Mas eles dão qualquer coisa. É um pouco como um farol que não está lá para irmos ao encontro dele, mas para sabermos que, onde se vê luz, há terra. A função dos monges na sociedade é antes mostrar que – vocês como jornalistas, eu como realizador ou alguém como advogado ou operário – podemos mudar a nossa própria concepção do que é um ser humano, quando sabemos que esta é também uma decisão que se pode tomar e ser-se feliz com ela.
De repente, vê-se de forma diferente a nossa função como ser humano. Vemos, por exemplo, que não é necessário ser-se útil para se ser feliz. Não há nenhuma relação racional entre essas duas coisas. É complicado, mas a sedução de uma vida como a deles está em que se trata de uma vida incrivelmente radical e totalmente concentrada numa verdade. No seio de todas as religiões há sempre a busca de uma verdade absoluta. E isso é muito sedutor, hoje, porque o que é sedutor permanecerá sempre sedutor. Há também a grande sedução de não deixar que o tempo seja ocupado pelos aspectos consumistas da sociedade, que são sobretudo considerações de medo: Será que estou suficientemente bem vestido? Será que ganho dinheiro suficiente? Comprei o Mercedes certo ou um Mercedes que não é nada cool? Tudo isso é desperdício de tempo. A sedução deste tipo de vida é que ele dá a liberdade de esquecer tudo isso e dá verdadeiramente tempo para pensar o que fazemos na vida.

Público - Há alguém, na cena extra da produção do licor, que diz que os monges estão no cruzamento entre o conhecimento e a ciência. É esse conhecimento e essa ciência que nos faltam, aos que estamos fora?

Philip Groning - Quem diz isso não é um monge, um monge nunca dirá tal. Os monges dirão apenas que procuram fazer o seu melhor, talvez que estão a tentar ensaiar algo como colocar-se o mais próximo possível diante de Deus. Claro que nunca poderemos dizer que chegámos aí. Eles serão muito mais modestos, dirão que tentam fazer o melhor.

Público - Porque não ficou no mosteiro?

Philip Groning - Sinto-me sempre um pouco tentado. Agora, quando entrei no mosteiro, pensei de novo que gostaria de ficar ali por dois meses. Para viver lá, simplesmente, ou para escrever um guião... Aliás, é uma tendência frequente de muitos artistas, que trabalharam em conventos.

Público - Foi uma surpresa o sucesso do filme junto do grande público?

Philip Groning - Por um lado, não. Quando se é cineasta, pensa-se sempre que o próximo filme será um grande sucesso. Normalmente, o público não pensa assim...

Público - Mas já pensava assim, com este filme tão radical?

Philip Groning - Penso sempre que é preciso ser radical para ter sucesso. Talvez por isso eu não tenha sucesso como outros. Percebi que há muitos filmes sobre meditação no quadro asiático e pensei dar ao público europeu um filme que diga que isso é também possível no quadro da nossa cultura, pensei que haveria muita gente que o iria ver. Porque há qualquer coisa estranha nesta orientação para o budismo, o esoterismo, etc. É como se as pessoas dissessem: quero que alguém me ajude a ser completamente eu mesmo, mas quero também ser alguém completamente outro. É muito mais fácil encontrar o desejo em religiões muito distanciadas. Posso imaginar-me facilmente ser budista completamente feliz porque não tenho recordações de ser uma criança budista que discutiu com os sacerdotes budistas; no entanto, recordo-me de discutir com os padres católicos. Pensei então que, se fizesse um filme onde o público se colocasse em contacto consigo mesmo, de modo mais profundo, haveria muita gente que o iria ver.

Público - Porque decidiu filmar o olhar e os rostos dos monges para a câmara? Há ali uma dimensão estética do corpo...

Philip Groning - Filmei isso no início da rodagem. Dei comigo tão intimidado pelo silêncio que quase não me mexia e me escondia um pouco. Percebi que não se pode fazer um filme se não se quer ser visível.
Há um contraste entre a vida dos monges e a presença de uma câmara, um contraste muito forte. Não posso esconder-me. Então, era melhor colocar o contraste bem forte e dizer: se convidaram uma câmara, ela está aqui agora, olhem para ela. Isso ajudou-me a sentir-me à vontade e pensei que ajudaria o público a perder o sentido de voyeurisme, porque nunca ninguém pode lá entrar. Colocando os monges a olhar o público, a pessoa percebe que eles podem olhar cada um mais tempo do que cada espectador os olha.

Público - Eles aceitaram facilmente?

Philip Groning - Não todos, houve alguns que não quiseram ser filmados, mas [os outros] aceitaram facilmente. Para eles, uma câmara não tem a mesma importância que para nós, porque eles não são tão vaidosos, não é importante que eles estarem bonitos na televisão e os amigos comentarem.

Público - Há uma frase no filme que diz: “Em Deus não há passado, só presente.” Mas esta é uma ordem sobretudo do passado...

Philip Groning - É o velho monge cego que diz isso, em relação à morte. Ele não receia a morte, porque vem imediatamente a vida do além, porque o tempo só existe para nós como seres humanos. Mesmo para nós, existe de um modo muito contraditório. A única coisa que existe verdadeiramente é o presente e todas as outras coisas são objectos de memória. Mesmo a concepção do futuro: a imagem que se tem está numa recordação. O que ele quer dizer é que a única coisa que existe é o presente.

Público - É religioso?

Philip Groning - Sou.

Público - Católico?

Philip Groning - Recebi uma forte educação católica. E sou católico de uma certa maneira. Mas não estou de acordo com todas as coisas da Igreja, naturalmente.

Público - É mais católico hoje do que era antes de passar seis meses na Grande Cartuxa?

Philip Groning - Mais, muito mais. Antes, tinha muitas dificuldades. Pensava que a Igreja Católica se concentrava demasiado nas questões da confissão, da culpabilidade, do pecado. No mosteiro percebe-se que para os monges o importante é o sentido da graça, da felicidade. Para eles é um facto extraordinário que haja vida. Vivermos é uma graça, um presente de Deus.

Público - Já viu o livro de Paulo Moura e Nacho Doce?

Philip Groning - Sim. Gostei imenso. Acho que eles captaram a incrível individualidade dos monges, que são, enquanto indivíduos, realmente diferentes uns dos outros. Captaram também a luta interior deles para chegarem a um fim tão alto, ao mesmo tempo que, enquanto seres humanos, têm dificuldades, cometem faltas, têm momentos de fraqueza, escapam um pouco às regras. Capta ainda muito bem uma espécie de calor, de felicidade dos monges, que não são pessoas tristes. Achei ainda fantástica a produção do livro: o grafismo, o papel, tudo foi feito com enorme cuidado. Como os objectos que os monges produzem: coisas simples, mas muitíssimo bem feitas nos pequenos pormenores.

Adelino Gomes, António Marujo
in Público, 20.12.2007
Publicado em 27.12.2007

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HÔGEN YAMAHATA

CAVANDO UM POÇO PARA ALCANÇAR UM CÉU AZUL

Quando estamos, por exemplo, nos Alpes, a escalar altas montanhas, não nos encontramos com nenhuma nuvem, até alcançarmos uma determinada altitude. Quando voamos num avião a milhares de metros de altitude, podemos observar nuvens por cima de nós, assim, de repente, entramos nelas, e finalmente alcançamos na máxima altitude, o vazio do céu azul.

De igual modo, na nossa prática de meditação, podemos chegar a uma etapa na qual encontramos muitas classes de nuvens: pensamentos, ideias, ilusões, emoções e inclusivamente, às vezes, vividas formas e paisagens extra-sensoriais (Makyô). Devido a uma inumerável acumulação de todas as nossas experiências passadas e da história guardada na nossa consciência-armazém (caixas Kármicas), às vezes, algumas recordações passadas ou ilusões podem aparecer diante da nossa visão.

Tais nuvens aparecem em um ou outro ponto da nossa ascensão. Mas se, de forma penetrante, continuamos a ascender, alcançamos o mais alto céu, livre de toda a nuvem de fantasias, miragens e ilusões, onde é possível descobrir o verdadeiro milagre deste último encontro do Aqui-Agora.
Este é o mais alto e ilimitado céu azul que alcançamos, passo a passo, na posição sentada: Simplesmente um céu azul sem fim que nos abraça e penetra todos os seres. Não há nada melhor, nem mesmo nas mais belas formas de nuvens que amiúde nos enamoramos. E a única realidade em que estamos é definitivamente melhor que milhares de sonhos agradáveis e fantásticos.

A NOSSA TAREFA MAIS URGENTE É REGRESSAR E NOS SENTIRMOS COMO QUE EM CASA NESTA PAZ ÚLTIMA DO VAZIO. ESTAMOS A CAVAR O NOSSO PRÓPRIO POÇO PARA ALCANÇAR O MAIS PROFUNDO CENTRO SEM MENTE DA TERRA. AÍ JÁ NÃO EXISTE FRONTEIRA INDIVIDUAL, OU LIMÍTES, NEM SEPARAÇÃO DE ALGUM TIPO, NEM LUTA DO EGO, NEM IDEIA ILUSÓRIA EM ABSOLUTO, SIMPLESMENTE SURGE A MAIS PURA ÁGUA, QUE HUMEDECE O DESERTO DO MUNDO DO HOMEM.

HÔGEN YAMAHATA, no livro " Folhas Caem, Um Novo Rebento "

Sobre o autor

Encontro Inter-Religioso de Meditação

Lentamente, tambem há em Portugal quem ponha em prática iniciativas de diálogo inter-religioso. Como Aqui. Neste caso particular é no encontro de diferentes sensibilidades espirituais de abordar e praticar a meditação, que é dado mais um passo para o sonho da construção de um mundo espiritualmente globalizado onde todos podemos ser verdadeiros irmãos. E mais próximos e atentos, mediados por corações abertos e confiantes, será porventura mais fácil sermos mais justos e menos indiferentes. Talvez com menos dogmas para discutir, ainda que um possa multiplicar-se na sua prática constante: Ser Solidário.

Einstein e Buda - Palavras Comuns 1

"Os seres humanos só poderão alcançar uma vida harmoniosa e gratificante se conseguirem renunciar, dentro dos limites da natureza humana, ao esforço de satisfazer os desejos de ordem material."
Albert Einstein

"O homem, acossado pelo desejo, corre atabalhoadamente como uma lebre apanhada num laço; que o monge repudie, pois, o seu desejo, esforçando-se por anular a s suas paixões."
Buda
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"Toda a nossa ciência, confrontada com a realidade, é primitiva e infantil."
Albert Einstein

"Calcula aquilo que o homem sabe e não haverá comparação com aquilo que ele não sabe."
Chuang Tzu

Fonte: Einstein e Buda - Palavras Comuns. Onde os grandes cientistas e os mestres espirituais se encontram. Livro de Thomas J. Mcfarlane.

Cartuxa de Évora 2

Os monges do silêncio

O Grande Silêncio - Realizador Philip Gröning

"O Grande Silêncio" é o primeiro filme sobre a vida interior da Grande Chartreuse, casa-mãe da Ordem dos Cartuxos, uma meditação silenciosa sobre a vida monástica. Dezassete anos depois de ter pedido autorização para filmar no mosteiro, é dada autorização para entrar ao realizador, que filmará a vida interior dos monges cartuxos. Sem música à excepção dos cânticos do mosteiro, sem entrevistas, nem comentários, ou artifícios. Evocam-se unicamente a passagem do tempo, das estações, os elementos repetidos incessantemente durante o dia ou as orações. Um filme sobre a presença do absoluto e a vida de homens que dedicam a sua existência a Deus. O filme ganhou os Prémios de Melhor Documentário no Festival de Sundance e nos Prémios Europeus do Cinema.

"SÓ EM COMPLETO SILÊNCIO SE COMEÇA A ESCUTAR"

Ordem dos Cartuxos - Cartuxa de Évora


A Ordem dos Cartuxos (do latim Ordo Cartusiensis, O.Cart.) é uma ordem religiosa católica semi-eremítica fundada em 1084, por São Bruno, em França.

No passado, esta ordem religiosa dividia-se em dois grupos: os padres e os irmãos leigos. Cada monge tinha acesso à sua própria cela a qual, poucas vezes, abandonava. Três vezes por semana não comiam pão, água ou sal e faziam, muitas vezes por ano, longos jejuns. Os monges cartuxos permaneciam sempre num regime de estrito silêncio e o consumo da carne e do vinho eram-lhes proibidos.
Presentemente, os monges cartuxos continuam ainda a prática, com pequenas modificações, de tal austeridade.

Em Portugal, ainda existe um mosteiro desta Ordem onde se praticam tais costumes, é o Convento de Santa Maria Scala Coeli, em Évora. No Brasil existe também um mosteiro cartuxo, na cidade de Ivorá, RS.

Página oficial da Ordem dos Cartuxos

O Segredo da "Oração de Jesus" 1

A Oração de Jesus, também chamada Oração do Coração, é uma oração curta cuja fórmula é orar de forma repetida. Foi amplamente praticada, ensinada e discutida através da história do Cristianismo Oriental. As palavras exactas da oração variam da forma mais simples, como Jesus tende piedade à forma mais estendida: Senhor Jesus Cristo, Filho de Deus, tende piedade de mim, pecador.
A Oração de Jesus é, para os ortodoxos orientais e os católicos orientais, uma das orações mais profundas e místicas; é frequentemente repetida continuamente coma parte de uma prática ascética. Apesar de existirem muitos textos da Igreja Católica sobre a Oração de Jesus, a sua prática nunca atingiu a mesma popularidade da Igreja católica ortodoxa.

Alguns entusiastas defendem a sua origem até aos apóstolos, mas julga-se que não é possível encontrá-la, com as suas características actuais, antes do Século XIII. No entanto, tendo em conta a natureza da Oração de Jesus, descobrimos a sua origem no ambiente de busca de uma oração contínua que abarca intensamente a história espiritual dos primeiros séculos cristãos, particularmente na peregrinação dos Padres do Deserto.

É doutrina comum da vida monástica primitiva a procura do ideal da oração contínua. Santo António do Egipto (250-356) que ficou na história como o pai dos monges dizia que «rezava constantemente, pois tinha aprendiddo que era necessário rezar incessantemente em privado».
A aspiração a uma oração incessante revela-se em orientações como as de São Paulo que exorta a viver «perseverantes na oração" (Rom 12,12) e a orar «sem cessar» (1Tes 5,17).

Esta oração é perfeita como um mantra de meditação cristã. Um outro seu significado sugere a atenção consciente ao nosso interior quer no plano formal da repetição da oração, quer na frutificação da sabedoria do coração em todos os momentos presentes. Com a repetição desta oração simples podemos em qualquer momento despertar uma atitude positiva para o momento presente. Assim invocar permanentemente Jesus é para os cristãos aproximar-se da realidade tal como é, experimentar com coragem o universo criado, e não menos importante, aceitá-lo. Uma das descobertas valiosas com esta prática é sentir o fortalecimento da confiança na compaixão de Deus, que nos acompanha a todos, sem excepção, subtilmente pelas várias civilizações e gerações.